Integração e antecipação são palavras-chave para quem quer elevar o nível de compras da empresa para além do sourcing. É somente observando pontos anteriores ao processo de cotação e negociação, e conhecendo o que cada área do negócio está planejando, que fica possível tomar decisões eficientes.

Neste artigo, vamos falar um pouco mais sobre o tema abordado no Pit Stop Supply Chain por Rafael Bonini, Diretor da Accenture e que lidera a área de Sourcing Procurement da empresa. O evento promovido pela CICLO Academy aconteceu em março de 2024 em São Paulo.

Visão ampla e integrada da estratégia de compras

Na área de Compras, o sourcing diz respeito a uma série de processos relacionados aos fornecedores. Ganhou uma metodologia mais abrangente, o de strategic sourcing, considerando as etapas necessárias para uma estratégia mais eficiente. Entre elas, a definição de fontes e pesquisa de mercado para garantir um amplo garimpo de matérias-primas, tecnologias ou demandas.

Em uma abordagem tradicional de strategic sourcing, os profissionais recebem a requisição de um produto, esgotam as possibilidades dentro do mercado e se preparam para a negociação. Mas os tempos atuais vêm exigindo mais que isso: entender a necessidade de buscar alternativas pensando em custo, especificação, transporte, estoque, entre tantas outras variáveis.

É olhar o “antes” de ir para o mercado para colher melhores resultados “depois”

Imagine uma indústria de beleza, por exemplo, que consome uma grande quantidade de frascos para shampoo e perfume. Antes de buscar o produto no mercado, será que é possível repensar na especificação de embalagens para trazer economia? Ou, ainda, repensar a demanda da empresa?

O desafio é começar a observar alguns pontos anteriores ao processo de cotação e negociação que permitam identificar alternativas ao que está sendo negociado e comprado. Mas, como fazer isso? É aí que entra a importância de se pensar em compras além do sourcing.

Para isso, é fundamental integrar as áreas mais estratégicas das empresas (como comercial e financeiro), de forma a ter uma visão verdadeiramente ampla da estratégia de compras e uma tomada de decisão mais eficiente.

De acordo com Rafael Bonini, o primeiro passo é sentar-se com a área usuária e entender suas necessidades. Em seguida, buscar no mercado fornecedor as alternativas para a demanda. Mas não se trata simplesmente de executar a atividade conforme a requisição, e sim de compreender a necessidade para buscar a solução adequada e pensar no custo total dessa categoria.

“Então, se eu estou pensando em uma categoria de insumos — em frasco de perfumes, por exemplo — eu posso pensar com a área usuária e mexer na especificação daquela embalagem. Reduzir alguma coisa, repensar o número de cores que está no frasco, mudar formato, algo que me permita ter ganho”, analisa Bonini no Pit Stop Supply Chain.

“Mas eu também posso olhar os custos adicionais, que não necessariamente são visíveis. O custo de transporte daquele fornecedor até minha fábrica, o custo de estoque daquele produto na minha fábrica, o custo da perda caso algum produto seja perecível, entre outros. Eu passo a olhar de uma forma cada vez mais ampla para pensar em todas as alavancas”, completa.

As 4 alavancas para uma visão ampla e integrada de compras

Há quatro alavancas essenciais para ampliar a visão em relação a compras dentro das organizações:

1. Conectar as áreas de uma forma mais ampla, repensando a forma de trabalhar;
2. Atuar na demanda: trazer visibilidade e planejamento cada vez mais integrado, que permita ter um plano alinhado entre áreas de Produção, Comercial e Compras;
3. Pensar no custo como um todo, e não apenas do item a ser adquirido;
4. Pensar no ecossistema e alavancar a tecnologia que dê suporte e garanta o funcionamento desta nova forma de trabalhar.

3 capacidades que as empresas devem ter para ir além do sourcing

Possibilitar que a área de Compras da sua empresa vá além do sourcing não é algo que acontece do dia para a noite. E, por mais estratégico que o processo de compras seja, é necessário ir além dele para obter economia e eficiência em um nível mais adequado para garantir bons resultados operacionais.

Veja a seguir três capacidades que precisam ser desenvolvidas pelas empresas, segundo Rafael Bonini.

1. Visibilidade — as empresas devem ter uma visão completa do que estão comprando, de quanto estão gastando e de que forma esse gasto está ocorrendo no dia a dia.
2. Agilidade — depois de garantir a visibilidade a respeito dos gastos, é preciso ser ágil para tomar decisões. O mercado está cada vez mais dinâmico e não permite perda de tempo em decisões que devem ser imediatas. Ter as ferramentas adequadas e pessoas qualificadas para isso é essencial.
3. Resiliência — com visibilidade e agilidade, é preciso também estar preparado para lidar com eventos adversos, seja em nível local ou global. Pandemia, guerras e outros eventos podem ocorrer a qualquer momento e trazer impactos para as empresas, especialmente nos setores de Compras e Logística.

“As empresas precisam deixar de olhar programas de redução de custo de uma forma isolada e olhar isso de uma forma cada vez mais contínua, buscando produtividade e eficiência”, alerta Bonini.

Atenção: a importância do controle de savings

Por fim, além das capacidades citadas acima, é importante alinhar os savings ao orçamento do centro de custo.

Uma pesquisa realizada recentemente pela Accenture aponta que 70% dos savings são perdidos. Ou seja, ainda que haja uma negociação com os fornecedores, na prática essa economia não acontece.

Entre as razões para isso ocorrer estão um contrato que não foi bem estabelecido entre as partes, ou ainda a falta de controle sobre esse valor economizado — que acaba sendo usado por alguma área da empresa sem o acompanhamento devido.

As organizações não podem, no entanto, se dar ao luxo de perder os savings.

É preciso criar mecanismos de conexão entre as áreas, considerando orçamento, controle e monitoramento, para garantir que o saving vai ficar dentro de casa. Quando questões de custo são tratadas para trazer mais eficiência ao processo como um todo, é possível obter um resultado operacional e financeiro mais qualificado tanto para as áreas separadamente, quanto para a organização de forma geral.

Para se aprofundar ainda mais em Procurement, fica o convite para participar do 3º Compras Summit, que será promovido pela CICLO Academy nos dias 18 e 19 de junho. Confira aqui mais detalhes sobre o evento e se inscreva!